quinta-feira, 15 de março de 2012

Na continuidade ... Um Flor!



É necessário um amor que desoriente
que te faça sul do ocidente
que te horizontalize as vontades

Aquele tipo de amor que não morde, mastiga
que leva na língua o gosto azedinho da vida
te entorpece com o doce de meias verdades

É necessário um amor que lhe chegue ao ouvido
que lhe tire o juízo
Que ocupe cada movimento do ponteiro
É totalmente necessário um amor que chegue primeiro!

O amor que eu tenho poliniza o sorriso
seus braços, pétalas que se abrem aos poucos
um amor concentrado de muitos sentidos
Um amor como eu tenho , perdido!

É preciso um amor que lhe ponha no centro
que lhe deixe de banda, lhe derrube da cama
que se perca em lençóis e se encontre em seus braços

É preciso um amor que lhe encha de força
que lhe irrite, problematize até o ponto em você que sai do sério.
Que lhe explique a verdade do mundo, e através de seus olhos
lhe tire do tédio

É preciso um amor que não se defina
que ao cair na rotina, ainda tenha a conversa afiada
E que vá para longe, mas que quando volte
parece que nunca tenha saído de casa.

É preciso dividir um amor, como quem partilha a vida
a cama, um pedaço de chocolate!
é preciso ser a soma absoluta de dois Eu's!

(Isaac Silva - escrito em 15/03/2012)

Um Pólen!


Ouça Enquanto lê : Maria Bethânia - Mel

Quando abri a porta da cozinha vi uma abelha. Uma abelhinha bem pequena, e sorri com a dicotomia de sua vida. Se por um lado ela adoça a vida produzindo o mel, ela causa uma dor insuportável com a sua ferroada. E pra variar terminei fazendo uma analogia com o cotidiano das pessoas que nos cercam. Particularmente, gosto de pessoas diretas. Que dizem logo de uma vez e não guardam no peito, na mente ou no bolso, o que pensam, o que querem, e o que sentem. A depender do que dizem (e como dizem) podem ter (ou não) a minha simpatia, mas de todo modo conquistam o meu respeito.

É determinante pra o nosso crescimento que algumas vezes, seja necessário passar por situações desastrosas e provar o amargo da vida, para que então possamos aproveitar o doce. Eu acredito que já frisei bem essa ideia ao longo de outros post's, mas é porque de fato ela me diz muito sobre a vida e como devo levar. Estamos acostumados a sempre "correr atrás" dos nossos sonhos, de melhores condições de vida, etc... e talvez por sempre "correr atrás" não conseguimos êxito em maioria das coisas que perseguimos. Não devemos "correr atrás", devemos "correr na frente", nos adiantar ao que estar por vir, encarar a vida como um jogo de xadrez em já temos planejadas as próximas 25 jogadas, e torcer pra não precisarmos usar mais que 3 ou 4.

Mas voltando as abelhas (rs)... As abelhas são insetos sociais que vivem em colônia (hum) ... Em cada colméia existe uma abelha rainha, não duas, apenas uma. Se duas abelhas rainhas ou mais nascem ao mesmo tempo, elas brigam entre si até que uma mate a outra. Essa abelha rainha pode viver até 5 anos, enquanto uma abelha operária vive no máximo 2 meses. Dentre as várias organizações animais que eu já tive o prazer de estudar, sinceramente as abelhas me fascinam (Não mais que as tartarugas). As abelhas podem por colmeia abrigar de 60 a 80 mil abelhas operárias. A Abelha rainha em toda sua vida realiza apenas 1 único voo nupcial, onde ela libera um feromônio que atrai o "zangão", então ela lhe prende o testículo, e o morre "gloriosamente" após a fecundação. A abelha rainha, torna-se então hermafrodita, pois ela encontra-se fecundada pelo resto da vida.... Enfim, biologia a parte (rs)...

Durante a minha vida eu percebi que a busca por uma "abelha rainha" é vontade de todo ser humano. Vai dizer que você nunca quis que alguém se dividi-se em 60 mil pra cuidar de você?! Naqueles dias de preguiça e frio, que você não sonha nem em sair da cama, não queria alguém beijando seu corpo por inteiro, do calcanhar até a nuca, arrepiando cada poro do seu corpo, como se fosse arrancar sua alma a cada centímetro que a língua percorre?!

Eu não sei, qual é o tipo de vida que você vive, mas (in)felizmente(?!) eu não aprendi a viver pela metade. Tem coisas que você só deve viver (se quiser viver) nos extremos. Eu tento me resignar ao silêncio pra entender melhor os gritos do corpo. Eu tenho sangue nas veias que drenam o tempo inteiro em direções opostas, criam em mim um misto de sensações.

Eu penso nas pessoas, e nos jardins que tentei cultivar em cada uma. Nos jardins que consegui sustentar até que chegasse a temporada das flores. Penso em cada uma das flores que nasceram e desabrocharam, e penso nas que colhi, nas que pisei, nas que esqueci, nas que me alimentei do néctar, nas que reguei insistentemente. Mas sobretudo, penso nas ervas daninhas que trouxe na bagagem da mente, que me não me permitiu apreciar a beleza e o momento, que por várias vezes pensei ser efêmero. (ouve :) Leoni - temporada das flores) ... E isso dói, isso é um martírio, quando você passa a lembrar das coisas que você não conseguiu fazer dar certo, você esquece que o seu momento atual é um presente, e está sendo desperdiçado com lembranças de um passado que você não vai mudar.

Mas diante das coisas que não se muda, e não se configuram como parte da vida (ou pelo menos o lado feliz) eu penso no pólen. Aquele grãozinho bem pequeno, que modifica as abelhinhas. Enquanto elas pousam na flor, e retiram seu néctar, o pólen gruda nelas, e elas vão de flor em flor levando-o. E eu penso em pólen como pequenas atitudes, imagens e sons, pensamentos que possam clarear, ou preencher um fragmento do seu dia. Como algo bem fértil que vai iluminar suas trevas, e te aquecer por ao menos um instante.

Que vida estranha quando a gente para realmente pra observar...

que continue assim em partes, e que as outras partes não me modifiquem todo.
Um vídeo pra assistir depois que ler esse post (clique aqui)




quinta-feira, 8 de março de 2012

08 de Março - Dia Internacional da Mulher





Hoje poderia ser um dia como todos os outros, mas não é!
Hoje é dia Internacional da Mulher.

Dia de agradecer pela existência de sua mãe, madrinha, prima, tia, namorada, amiga, noiva, enfim, dia de agradecer pela mulher da sua vida! Ou as mulheres de sua vida! E eu quero agradecer pela existência das mulheres que fazem parte da minha vida.

Esse dia é dedicado inteiramente, as pequenas, as "arretadas", complicadas e problemáticas, as que querem a simplicidade de um abraço, ou o conflito das idéias, as que fazem e as que são poesia. É dedicado as amargas, as azedas, as agridoces.

De fato, eu acho que o dia da mulher é o dia que ela quiser. Nessa vida eu aprendi que ninguém no mundo consegue limitar uma mulher! Ela é o que ela quer! ela faz o que ela quer! Ela vai aonde quiser! Na verdade, a religião explica que Deus não quis arriscar, e então ele fez o rascunho da obra! viu que podia ficar melhor, e aí arrancou uma costela!

O que eu acho foda é, as mulheres durante anos foram subjugadas. Oprimidas por uma lógica machista e um sistema escroto. E aí temos mulheres que não foram coadjuvantes e sim protagonistas da história (v. Joana D'arc, Maria Quitéria, Negra Dandara, Indira Gandhi, dentre outras). E aí tem uma série de pensamentos sobre a real emancipação feminina que eu ainda acho muito escrota, pois não aconteceu, e aí vemos a fragmentação do pensamento feminino em duas vertentes: (1) as que se recusam a fazer as chamadas "coisas de mulher" , e as que não param pra pensar sobre isso (2).

(1) Toda mulher busca a independência, a superação, e o fim dessa lógica machista. As mulheres até a década de 20 viviam na vibe do "american life way" ... isso as dondoncas, porque aqui no Brasil, desde o inicio que a grande maioria da mulherada pega no pesado desde cedo. Índias, Escravas, Camponesas, não importa, desde cedo elas estavam trabalhando nos canaviais, nas cozinhas, lavando nos riachos, e ainda tinham que ter "vigor" para o apetite sexual de seus algozes.

Avançando um pouco no tempo, na Revolução Industrial, os países estavam nessa corrida pelo Lucro, começaram a difundir a idéia de "a mulher precisa do seu espaço" ... pra que? movimentar a economia! ... do mesmo modo que a princesa Isabel, "libertou" os escravos. Puro interesse, vendido como altruísmo e necessidade dos oprimidos vencerem seus opressores, ou pelo menos acharem isso. O Governo começa a modificar a visão da sociedade através das mídias, o machismo agora é algo do passado, das cavernas, a mulher moderna tem que ir as ruas, ocupar seu lugar trabalhando fora de casa. Essa é a idéia que o Governo vende, essa é a idéia que a sociedade compra. E as mulheres (beneficiadas?!) com isso, vão a luta, conquistam, ocupam, e recebem muito menos pra desempenhar o mesmo trabalho que um homem! ...

e aí eu pergunto?! cadê a igualdade nisso ?! ... Eu fui criado por uma mulher que se desdobrou em mil pra dar conta de meu irmão e de mim enquanto éramos crianças, e aí no meu documento de identidade o primeiro nome que vem é o do meu pai, e não o dela! Como entender isso?! O machismo nao acabou meu povo, ele está disfarçado, e se revela da pior maneira. Eu torço pra que todos os dias sejam dia da mulheres! Eu torço pra que os seus filhos tomem valor das mulheres que tem em casa! Eu torço pra que amanha seja diferente do dia de hoje ...

Hoje eu agradeço pelo dia da mulher, pela existência delas, hoje e só hoje!
porque o resto dos dias eu tenho pra fazer valer a pena com minhas ações tudo pelo que agradeço.

terça-feira, 6 de março de 2012

Quem quiser que meta os peitos!




Recentemente, os caminhos do dito progresso no Brasil, perpassam por terras demarcadas para preservação da cultura quilombola e indígena. Como sou produto dessa miscigenação não poderia de fazer algumas ressalvas aqui. O governo brasileiro se diz laico, mas em meu município há uma lei que OBRIGA os professores e alunos a rezarem o "Pai nosso de cada dia..." antes das aulas, e não tem como pedi nem pra Tupã ou Ogum "rogar por nós, pecadores agora e na hora da nossa morte".

O ensino das religiões é limitado apenas a uma religião, e é sem sombra de dúvidas, a perpetuação da ignorância que o Brasil sofre a 512 anos. Desde a época inicial de dominação e exploração da coroa portuguesa em terras brasileiras, os índios não aceitaram se submeter a "evangelização", e por isso não trabalhariam como escravos, logo houve (e continua havendo, agora por outros fatores) um massacre índigena. Tupis, Tapuias, Guaranis, Tupinambás, Caraíbas, e tantos outros povos que impregnaram sua história em nossas terras, hoje são esquecidos diante de futilidades da TV e do concreto das grandes cidades. Os povos amerindios que teriam sido os primeiros colonizadores, e legítimos donos da terra, hoje tem de viver em reservas delimitadas pra poder assegurar a "preservação de seu patrimônio cultural" ... o Brasil deveria ensinar Tupi, como língua mãe, e não repetir as merdas que a Austrália fez com seus aborígenes.

E aí quando eu penso que não tinha como piorar a coisa, como se já não bastasse os assassinatos contra os índios, os negros também viram alvo! O aprisionamento, o tráfico no navio negreiro, a dura travessia pelo atlântico, o tronco, a chibata, os estupros, as mazelas das senzalas com seus grilhões, e contra tudo isso apenas o sonho de liberdade! Só isso e nada mais! Revoltas nas Alagoas, em Ilhéus, em Salvador, em Pernambuco, e nada mudava. Quando finalmente os negros conseguiram a abolição da escravatura, subiram o morro, e de lá nunca mais saíram. A situação mudou?! muito pouco, aqui em Ilhéus mesmo, eu já perdi a conta de quantas vezes tirei policial de minha sala por querer pôr ordem quando a autoridade ali era eu, e não havia caos nenhum.

enquanto escrevia isso lembrei de duas situações que na minha opinião são coisas realmente lamentáveis:

(1) aqui em Ilhéus há um bairro chamado Teotônio Vilela, oriundo de uma ocupação irregular, o bairro está na zona periférica, e traz consigo problemas de infra-estrutura sanitária, elétrica, segurança e mobilidade. Com isso, algumas empresas aqui na cidade, que espalham cartazes a favor da dita "Sustentabilidade" e "inclusão" , estavam rejeitando currículos de moradores do Vilela, obrigando a população daquela comunidade a colocar como endereço casa de parentes que viviam em outros bairros.

(2) Eu já estava com meu cabelo grande, e dando aula sobre cultura baiana e raízes indigenas e africanas pra meus alunos de 6° serie. As meninas que até então andavam com seus cabelos presos ou com chapinha, desconheciam a história negra, a opressão, e não tinham aceitação sobre sua própria cultura. Durante dois meses em minhas aulas eu fiz um trabalho pesado sobre a valorização da cultura indigena e negra, que são fortemente descriminadas na região. Fui vendo, que minhas alunas começaram a soltar o cabelo, usá-lo crespo, com penteados afro, um aluno meu começou a ir pintado como era o costume dos pais dele, etc. Tudo voltando ao seu estado natural, quando um dia uma das educadoras (se é que posso chamá-la assim) aborda uma de minhas crianças e pergunta: "menina, que coisa feia, dá um jeito nesse cabelo, faz um baby-lise ou dá uma pranchinha nesse negócio (o cabelo da criança)!

"brother" nesse dia eu virei na porra! Eu fiquei tão indignado que rolou discussão e as porra naquela sala dos professores. Eu me pergunto até quando, filhos desse chão vão renegar o seu sangue e a cor da pele. Não tem coisa que me revolte mais que gente que renegue as origens, as raízes, a cor da pele. Aliás tem, injustiça contra quem não tem nem chance de reagir, de se defender. Lembrei do meu primeiro contato com comunidades quilombolas em 2007, e logo depois minha visita ao Quilombo dos Palmares (AL), lembrei também do meu primeiro contato com comunidades indigenas em 2008! Não pretendo descrever essas realizações pra minha vida, mas fiquei muito agraciado com tudo isso, e gostaria de sugerir que se possível, faça uma maior leitura sobre esse tipo de comunidade. É SUA HISTÓRIA TAMBÉM!