terça-feira, 6 de março de 2012

Quem quiser que meta os peitos!




Recentemente, os caminhos do dito progresso no Brasil, perpassam por terras demarcadas para preservação da cultura quilombola e indígena. Como sou produto dessa miscigenação não poderia de fazer algumas ressalvas aqui. O governo brasileiro se diz laico, mas em meu município há uma lei que OBRIGA os professores e alunos a rezarem o "Pai nosso de cada dia..." antes das aulas, e não tem como pedi nem pra Tupã ou Ogum "rogar por nós, pecadores agora e na hora da nossa morte".

O ensino das religiões é limitado apenas a uma religião, e é sem sombra de dúvidas, a perpetuação da ignorância que o Brasil sofre a 512 anos. Desde a época inicial de dominação e exploração da coroa portuguesa em terras brasileiras, os índios não aceitaram se submeter a "evangelização", e por isso não trabalhariam como escravos, logo houve (e continua havendo, agora por outros fatores) um massacre índigena. Tupis, Tapuias, Guaranis, Tupinambás, Caraíbas, e tantos outros povos que impregnaram sua história em nossas terras, hoje são esquecidos diante de futilidades da TV e do concreto das grandes cidades. Os povos amerindios que teriam sido os primeiros colonizadores, e legítimos donos da terra, hoje tem de viver em reservas delimitadas pra poder assegurar a "preservação de seu patrimônio cultural" ... o Brasil deveria ensinar Tupi, como língua mãe, e não repetir as merdas que a Austrália fez com seus aborígenes.

E aí quando eu penso que não tinha como piorar a coisa, como se já não bastasse os assassinatos contra os índios, os negros também viram alvo! O aprisionamento, o tráfico no navio negreiro, a dura travessia pelo atlântico, o tronco, a chibata, os estupros, as mazelas das senzalas com seus grilhões, e contra tudo isso apenas o sonho de liberdade! Só isso e nada mais! Revoltas nas Alagoas, em Ilhéus, em Salvador, em Pernambuco, e nada mudava. Quando finalmente os negros conseguiram a abolição da escravatura, subiram o morro, e de lá nunca mais saíram. A situação mudou?! muito pouco, aqui em Ilhéus mesmo, eu já perdi a conta de quantas vezes tirei policial de minha sala por querer pôr ordem quando a autoridade ali era eu, e não havia caos nenhum.

enquanto escrevia isso lembrei de duas situações que na minha opinião são coisas realmente lamentáveis:

(1) aqui em Ilhéus há um bairro chamado Teotônio Vilela, oriundo de uma ocupação irregular, o bairro está na zona periférica, e traz consigo problemas de infra-estrutura sanitária, elétrica, segurança e mobilidade. Com isso, algumas empresas aqui na cidade, que espalham cartazes a favor da dita "Sustentabilidade" e "inclusão" , estavam rejeitando currículos de moradores do Vilela, obrigando a população daquela comunidade a colocar como endereço casa de parentes que viviam em outros bairros.

(2) Eu já estava com meu cabelo grande, e dando aula sobre cultura baiana e raízes indigenas e africanas pra meus alunos de 6° serie. As meninas que até então andavam com seus cabelos presos ou com chapinha, desconheciam a história negra, a opressão, e não tinham aceitação sobre sua própria cultura. Durante dois meses em minhas aulas eu fiz um trabalho pesado sobre a valorização da cultura indigena e negra, que são fortemente descriminadas na região. Fui vendo, que minhas alunas começaram a soltar o cabelo, usá-lo crespo, com penteados afro, um aluno meu começou a ir pintado como era o costume dos pais dele, etc. Tudo voltando ao seu estado natural, quando um dia uma das educadoras (se é que posso chamá-la assim) aborda uma de minhas crianças e pergunta: "menina, que coisa feia, dá um jeito nesse cabelo, faz um baby-lise ou dá uma pranchinha nesse negócio (o cabelo da criança)!

"brother" nesse dia eu virei na porra! Eu fiquei tão indignado que rolou discussão e as porra naquela sala dos professores. Eu me pergunto até quando, filhos desse chão vão renegar o seu sangue e a cor da pele. Não tem coisa que me revolte mais que gente que renegue as origens, as raízes, a cor da pele. Aliás tem, injustiça contra quem não tem nem chance de reagir, de se defender. Lembrei do meu primeiro contato com comunidades quilombolas em 2007, e logo depois minha visita ao Quilombo dos Palmares (AL), lembrei também do meu primeiro contato com comunidades indigenas em 2008! Não pretendo descrever essas realizações pra minha vida, mas fiquei muito agraciado com tudo isso, e gostaria de sugerir que se possível, faça uma maior leitura sobre esse tipo de comunidade. É SUA HISTÓRIA TAMBÉM!

Um comentário:

  1. bravo isaac ,Espero que vc tenha posto moral nessa que se diz educadora e conversado com sua aluna que feio é a falta de cultura desse projeto de educadora.

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