Foi aquele beijo que me fez tremer do ínicio ao fim, quando eu estava naquela tarde chuvosa de quinta feira deitado, com ela ao lado, e todo resto, virou resto, e nada mais importava, e dali eu tirei a certeza que me acompanharia por meus dias: é amor!
Com essa introdução, eu me pergunto o que há no beijo que modifica a mente, mexe com o corpo e toma de assalto a alma, pra nos fazer ter essa certeza. O mundo muda, os momentos mudam pois o tempo passa, e a mente do homem em determinadas ocasiões muda também. Como reagir a essa mudança que traz beleza a vida. Certas vezes esperamos demais pra dizer o que pensamos, e perdemos o momento certo de dizer. Aquele silêncio que precede o beijo, por vezes permanecemos apenas em silêncio, o momento passa, e beijo não vem. Em outras ocasiões somos impulsivos demais, precipitados, colocamos o carro na frente dos bois, e nem sempre acontece o que esperamos. Há uns três dias atrás estava doente, e tomei remédios demais na esperança de passar a dor, conseguir dormir, esquecer, fechar os olhos pra quando abrir me sentir vivo de novo. A dor passou, eu dormi demais, fechei os olhos e quase não abri mais, e isso não me fez esquecer, pelo contrário, me fez lembrar pelo que eu estou aqui. Para dizer que se no beijo existe uma incógnita, ela deve permanecer assim. Sem ser descoberta, seria muito bom que esse mistério que há por trás do beijo fosse revelado, mas assim os amores seriam forjados e não expontâneos. Minha mente está vazia, e todo pensamento são como notas de um piano em uma música lenta. Eu lembro desde que me compreendi por gente passei a vida esperando por algo que viesse a me dar sentido. Eu achei que tinha vindo uma primeira vez, e me enganei. Fantasiei em meu peito, uma utopia de amor verdadeiro, e era mais uma fugacidade da juventude, as idealizações, os beijos, a espera por se ver, o amor impossível, e como todo jovem, a determinação em fazer o contrário do que se manda. Mas o beijo, o beijo era só um toque de duas bocas. E só.
Perdi o que não tinha, e mais uma vez voltei pra fila de espera. Esperando a minha vez, a minha segunda chance. Ela chegou, tardou, mas chegou. E eu a agarrei pois aquele beijo, exatamente aquele beijo, mudou tudo. Mudou a vida do jeito que eu conhecia, meu quarto não parecia um quarto de hotel que só estava de passagem, meu quarto virou um passaporte de espera, um pequeno mundo que se transformaria em uma casa no futuro. Meus olhos passaram a brilhar tanto quanto o sol, e eu comecei a me sentir bom o bastante para levantar da cama, e poder correr atrás dos meus sonhos, eu tive a gana de ser mais, conhecer mais, querer mais, e poder devolver tudo aquilo que me foi dado através daquele beijo. Eu busquei forças pra seguir adiante, fiz as escolhas mais dificeis de minha vida até agora, e aprendi a viver com elas. Aprendi que a distância desgasta as pessoas assim como os pneus. Me embrulhei com fita vermelha, e fiquei quadrado pra poder estar "presente". Não me arrependo das escolhas que fiz, o modo como eu vivi foi consequência daquilo que eu escolhi fazer, mas ainda assim as minhas opções abriram minha percepção, e eu conseguir ver que diante a majestosa cidade grande, tudo que eu queria era o que estava realmente guardado no interior. Longe de todas as aberrações e do caos que o mundo trazia consigo. Longe de toda falsidade, toda inveja, cobiça, mentiras, trapaças, rancor, e quaisquer sentimentos e gestos impuros que o mundo trouxesse em sua mala. Eu dei as costas a isso, abri os braços, e senti nas minhas costas esses açoites. Mas olhar pra meu interior, e rever, e sentir novamente aquele beijo, me motivou a aguentar firme. Eu convivi os meus dias com colegas que mais pareciam desconhecidos, e são desconhecidos. Apertei a mão daqueles que me detestam, fui humilde pra reconhecer meus erros, e saber a hora de falar e de ficar quieto. Me manti neutro pra proteger meu amigo, ficar nas sombras, e me expor para ele, dizendo: Não temos a necessidade disso, mas eu estou do seu lado. Mas todos nós temos, os nosso dias de lutas, dias de derrotas e dias de glória. Por mais forte que seja o cabra, sem chega uma hora em que ele vai dobrar os joelhos diante a um sentimento. E o meu momento chegou. Eu senti como se minhas veias tivessem bombeando todas as minhas lembranças boas, sentimentos bons pra longe, e não tivesse restado nada por dentro. Só o oco de uma mente sem lembranças, e o peso de um coração sem amor. As pessoas esbarram em mim no corredor da faculdade, eu perco o ônibus, eu perco os trabalhos, eu vou pras finais, eu não sinto fome, sede, cansaço. Meus olhos vidram em qualquer ponto distante e tornam-se imóveis, e parecem feitos de vidro fumê, quem os olha nao consegue me ver. E agora nem eu mesmo quero me enxergar.
O mundo nesses ultimos dias se tornou maior, mas ainda assim eu não o temo. Eu vi durante muito tempo os segredos que ele tentou esconder. Existem ladrões e vigaristas por todas as partes. Eu queria parar somente, descansar o peito em um lugar tranquilo onde eu pudesse ter um conforto. Eu estou sempre seguindo em frente, independente da direção que a vida aponte, tô sempre me molhando na tempestade, porque não desejo fugir dela, mas só por um instante, eu queria de volta o momento exato daquele beijo, onde não havia, nem chuva, nem o calor do sol, nem minha mãe me cobrando justificativas, nem the inglish course. Só havia aquele beijo, aquele instante, e todo resto era apenas o resto, e a gente se tocou do quão simples a vida pode ser. Eu sei da veracidade daquele momento, eu me manti fiel a ele, pois sei que aquele foi a calmaria que vem antes e pós a tempestade. O tempo mudou, as cabeças também, e hoje é a construção daquilo que não é continua, a mente virou maquinas e operários a todo vapor, e os prédios invisivels vão sendo erguidos, derrubando as casinhas que haviam no interior, eu tentei escapar, tentei correr disso, mas aparentemente já não fazia nenhuma diferença. Afinal, é tão mais facil acreditar nessa doce loucura que é a vida após a morte, e se esquecer de viver intensamente nessa, apenas atuando por medo do julgamento divino. Viver a vida como e com quem se gosta se tornou uma raridade. Eu queria amar, e ser argila dois pra um. Queria ser que nem duas lagostas no aquário, mas a agua secou, e eu permaneci só. Foda é saber que é puro, que não vai embora, que eu tenho que aprender a conviver com o bem querer, a alguem que já não está mais aqui. Foi borboleta que o ventou tirou pra dançar e nunca mais devolveu. Mas como dizia Bob Marley:
'Cause summer is here
I'm still waiting there
Winter is here
And I'm still waiting there
Like I said
It's been three years since
I'm knocking on your door
And I still can knock some more
I don't wanna wait in vain for your love
I don't wanna wait in vain for your love
I don't wanna wait in vain for your love
(I don't wanna wait in vain for your love)