domingo, 5 de dezembro de 2010

A caixa de Isopor

Em uma rua estreita havia um mercadinho. No último corredor desse mercadinho, próximo aos utensilios domésticos havia uma caixa de isopor.

Era simples, apenas uma caixa de isopor, e estando ela entre tantas caixas térmicas de plástico e fibra, tinha se acostumado a idéia de que nunca saíria dali. Não conhecia seu potencial, julgava-se ineficiente já que nunca conseguiria provar o seu valor.

Certa vez, um transistante que passava pelo mercadinho, com pouco dinheiro resolveu comprar a caixa de isopor, para nos domingos de futebol e praia, poder curtir suas bebidas geladas em paz. Comprou, e retornou à sua casa feliz da vida, e a caixa de isopor que até então não sabia que havia nada além dos corredores do mercado, se viu diante do mundo.

A novidade era tamanha, e a primeira coisa que a caixa de isopor recebeu para se sentir ocupada foi gelo. Ela não sabia como ser diferente, e gelo era a única coisa que a ocupava, e ela fazia questão de preservar cada cristal congelado dentro de si. Em um segundo momento, a caixa de gelo recebeu garrafas e latinhas para guardar. Tamanhos e sabores diferentes, vindos da mesma pessoa. E era incrível como uma pessoa só motivava uma caixa de isopor, antes vazia a poder fazer o melhor em benefício de alguém que não ela. Porém a sede do rapaz era insaciável, e o abre e fecha da tampa era a maior dificuldade da caixa de isopor, que não conseguia trabalhar o suficiente para manter tudo gelado como gostava seu amigo.

As bebidas foram acabando pouco a pouco. O gelo foi derretendo, apesar do esforço da caixa de isopor. Sua importância foi diminuindo a medida que o rapaz colocava nela menos gelo e mais bebida. O rapaz começou então a pôr de lado a caixa de isopor, acusando-a de estar furada, desgastada ou impropérios do tipo. A caixa de isopor foi aceitando a nova condiçao, e agora tentava mais do que antes, provar que ainda podia saciar a sede de seu companheiro. E este achou uma solução mais viável: comprou uma geladeira mais espaçosa.

O isopor voltou a ser uma caixa vazia, em um quarto de bagunça no final do corredor de uma casa, em uma rua estreita, dessa vez com uma sensação incerta. Não a de vazio pelo vazio como antes, mas agora sentia-se vazio depois de ter sido completo.


(isaac silva - O fôlego)


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